quarta-feira, 20 de novembro de 2013

VAMOS REFLETIR UM POUCO.


 BOM DIA ASSÚ.                                      
O OUTRO LADO DO MEDO DE DIRIGIR:  
Comportamento Agressivo no Trânsito


A educação para o trânsito é uma questão de saúde pública. Estão envolvidos o cidadão e sua família, assim como as instituições governamentais e privadas. Segundo Corpo de Bombeiros Militar (2006), no Brasil mais de 40.000 pessoas perdem a vida anualmente em acidentes de trânsito, porém acredita-se que estes números são maiores, pois as estatísticas são falhas. A elevada mortalidade por acidentes de trânsito representa um problema de saúde pública tanto no Brasil como em diversos países.

Os jovens, especialmente do sexo masculino, são o grupo com maior envolvimento em acidentes de trânsito fatais. Os acidentes fatais são apenas a ponta do iceberg; devem ser considerados os acidentes com sequelas e os acidentes que evoluem para recuperação total, mas apresentam longo tempo de internação precisando, às vezes, de cirurgias. Pesa, ainda, o afastamento das atividades acadêmicas e laborais.

Comportamento agressivo no trânsito estaria relacionado a fatores bio-psicológicos e sociais.De forma geral, comportamento violento e agressivo encontra-se ligado tanto a fatores da cultura e educação, como a questões neuropsicológicas relacionadas aos níveis de testosterona e demais neurotransmissores.
Sabbatini (2001) associa áreas cerebrais específicas responsáveis pelo comportamento agressivo, como amigdala, que é uma estrutura cerebral esferóide com aproximadamente dois centímetros de diâmetro, situada no pólo temporal. Região do cérebro que faz parte do sistema límbico, importante centro regulador do comportamento sexual e agressividade. Também relacionada com os conteúdos emocionais e memória. Atualmente, já existe conhecimento científico suficiente para atribuir características biológicas a comportamentos agressivos, como é o caso de alterações na concentração de serotonina, nas amígdalas (região do cérebro), nos lobos temporais. Quanto às diferenças da agressividade encontradas entre o gênero masculino e feminino, parece que há uma relação entre os níveis de testosterona. Diferenças comumente relacionadas ao comportamento agressivo estão na quantidade do hormônio testosterona, presente em grandes quantidades nohomeme em pequenas na mulher. Ele é responsável pelas características masculinas (pêlos no corpo, formação de músculos), apetite sexual e também pela agressividade.
Ainda em Sabbatini (2003), quanto ao fator orientação espacialhá uma relação estreita entre os níveis de testosterona e a habilidade masculina no raciocínio espacial. Na orientação espacial, ponto para os homens. Na média, o sexo masculino tem também mais facilidade em visualizar objetos em rotação, identificar figuras geométricas escondidas num desenho mais amplo, calcular distâncias e velocidades. E, como os macacos machos, os homens são mais precisos em acertar objetos em determinado alvo. Este fato explica um maior número de acidentes fatais com motoristas jovens do sexo masculino.

Pinker (1999) descreve como os níveis de testosterona podem elevar a agressividade. Refere que foram encontrados níveis de testosterona mais elevados em advogados criminalistas do que aqueles que trabalham com questões administrativas. Assim como, os torcedores de futebol tem seu nível de testosterona aumentado após terem assistido no estádio uma partida. A testosteronaestá ligada à capacidade de ação e reação, competitividade, agressividade e raciocínio espacial. O homem utiliza destes recursos para dirigir. Se por um lado a testosterona facilita o exercício como motorista, pois melhora o raciocínio espacial, por outro lado expõe o condutor a seus primitivos impulsos de agressividade.

Em nossa cultura a direção de veículo está relacionada ao status de inclusão e superioridade. Além disto, quando o indivíduo dirige um carro ele é exigido em seu potencial para raciocinar em termos de espaço, de tomada de decisões, além de favorecer uma exposição a situações estimulantes do comportamento agressivo e competitivo. Facilmente o motorista passa a ocupar o lugar de piloto! Este que entra em uma luta pelo podium do primeiro lugar. Segundo ateoria cognitivo comportamental, o estado de humor denominado como raiva é acionado pela interpretação de que "uma regra foi violada", "fui tratado injustamente", ou seja predispõe o sujeito a um mecanismo de "luta ou fuga".

Em Ballone (2005), quando em nós uma ameaça é vivida, é gerada como reação uma resposta de luta ou fuga. Esta é acionada automaticamente na percepção do perigo. Envolve a liberação de alguns hormônios pelo corpo e a mobilização de parte do sistema nervoso. Esta reação produz sintomas físicos que correspondem a um quadro de ansiedade. Imediatamente surge o aumento da frequência cardíaca, palidez, tensão muscular, alterações digestivas. Seguido de perturbações no sono, na função sexual, mudança de peso, dermatoses, baixa resistência a infecções, queda de cabelos ou quadros alérgicos, entre outros. Quando vivenciamos a ansiedade antecipatória – interpretação de um risco que virá, de uma dificuldade imaginada – temos clara noção das sensações de agitação, tensão, palma das mãos suadas, boca seca,tonteira, dificuldades respiratórias, coração disparado e rubor facial. Os efeitos psicológicos incluem a tendência para autoritarismo, o sentimento de perseguição, a sensação de incompetência, o aumento de consumo de álcool, cigarro e drogas, a alteração na ingesta de alimentos, o isolamento e introspecção, a queda da eficiência, a irritabilidade, a desmotivação, a queda da capacidade de concentração e organização ou até mesmo a depressão.

Para Andrews (2003), a raiva surge quando acreditamos que fomos tratados injustamente, magoados desnecessariamente ou impedidos de obter algo que esperávamos alcançar. Note a ênfase em injustiça e na quebra das expectativas. Não é simplesmente a mágoa ou o prejuízo que nos faz ficar com raiva, mas a violação de regras e expectativas. E quanto às pessoas que foram frequentemente abusadas, e que se sentem incapazes de se proteger? As pessoas que se acreditam impotentes em relação ao abuso, com frequência, reagem não com raiva, mas com resignação ou depressão. Para estas pessoas, o desafio pode ser aprender a experimentar a raiva quando alguém as está prejudicando diretamente, ao invés de aprender a controlar a raiva. Ainda segundo o mesmo autor, o padrão de raiva rápida e frequente acompanha a crença de que é possível nos protegermos ao nos confrontarmos com o abuso. A raiva pode ser um problema, portanto, tanto por ser muito frequente quanto por ser ausente.É normal sentir raiva, mas sua intensidade ou aquilo que fazemos com ela separa com uma tênue linha o equilíbrio e a violência. A raiva rápida no trânsito pode ser entendida como a outra face do medo da convivência com outras pessoas, acionando a reação de luta ou fuga, pois somos afinal, "máquinas de sobrevivência". Tudo aquilo que é interpretado como ameaça deverá ser por nós ou evitado ou combatido. Medo e Raiva estão em uma mesma base.

A Tese de Doutorado de Presa (2010) foi motivada em razão dos acidentes de trânsito representarem uma das principais causas de mortes violentas no Brasil e no mundo. O autor afirma que o estado emocional do motorista é um importante aspecto da direção segura. Sendo a emoção raivosa uma das causas dos acidentes, pois prejudica a percepção, a tomada de decisão e a psicomotricidade.
Participaram 400 motoristas de Manaus, Amazonas, Brasil.

Houve cinco tipos de motoristas: (1) de automóvel, (2) de caminhão, (3) de motocicleta (4) de ônibus e (5) de táxi.

PRESA (2010), em sua tese buscou verificar se nos motoristas existe correlação significativa entre a emoção raivosa, sentida na vida em geral, com a emoção raivosa sentida no contexto do trânsito.

Foi comparado os índices médios de emoção raivosa entre: faixas etárias, homens versus mulheres, níveis de escolaridade, não infratores versus infratores e profissionais versus amadores.

Os resultados demonstraram que:
(1) os motoristas que apresentam menor emoção raivosa na vida em geral tendem a apresentar menor emoção raivosa quando dirigem, e vice-versa,
(2) as médias de emoção raivosa foram significativamente mais baixas nos motoristas de mais idade,
(3) não houve diferença significativa na emoção raivosa média de homens e mulheres que dirigem automóveis,
(4) não houve diferença significativa na emoção raivosa dos cinco tipos de motoristas, quanto ao grau de escolaridade,
(5) os motoristas não infratores apresentaram emoção raivosa média significativamente mais baixa que os motoristas infratores e
(6) os motoristas amadores (automóvel) apresentaram emoção raivosa média significativamente mais alta que os motoristas profissionais de caminhão e de ônibus, e mais baixa do que motoristas de táxi e de motocicleta.

No ranking das situações de maior raiva no trânsito foi determinado uma ordem decrescente para as 20 situações de raiva no trânsito (SRT), da maior até a menor geradora de emoção raivosa (1ª a 20ª), para os motoristas em geral e para cada um dos cinco tipos de motoristas

Os resultados demonstraram o seguinte ranking das situações de maior raiva no trânsito.

posição – situação
1 surgem buracos grandes e inesperados que agridem meu veículo
2 passo por motoristas que que estacionam em várias filas, chegando a fechar a fila
3 à noite, motoristas me colocam luz alta nos olhos, dificultando a visão
4 vans que param em local inadequado para pegar ou largar passageiros
5 vejo carros da polícia cometendo infrações no trânsito, sem urgência
6 veículos grandes cruzam a minha frente, obrigando me a frear
7 percebo que há guardas escondidos, multando motoristas
8 pedestres atravessam arriscadamente, obrigando-me a frear
9 há trânsito lento em fila única e motoristas avançam na contramão
10 veículos lentos não saem da esquerda, obrigando-me a ir pela direita
11 operários estão tapando buracos em horário de movimento intenso
12 engarrafamentos e ou trânsito lento me fazem ficar atrasado
13 motoristas andam próximos a mim com ruídos altos
14 motoristas ficam muito próximos da traseira do meu veículo
15 ciclistas andam pela contramão, obrigando-me a desviar
16 passo diariamente por uma obra que dura meses
17 motoristas em geral passam por mim quando abre o semáforo
18 sou xingado por ter dado chance para pedestre ou veículo passar
19 buzinam instantaneamente para mim quando abre o semáforo
20 motoristas andam acima da velocidade permitida para o trecho

O estudo mostra que no trânsito os pontos de vista sobre os outros mudam conforme o observador.
Para os motoristas de caminhão, os maiores provocadores de raiva no trânsito são luz alta nos olhos e vans em qualquer lugar.

Para os motoristas de táxi e os donos de carros de passeio, os maiores motivos de raiva são os buracos e os outros carros fechando a rua.

Para os condutores de motocicleta, são os buracos e veículos que cortam a frente.

Para os motoristas de ônibus, são os veículos que fecham a rua e a luz alta nos olhos. “O que dá mais raiva são os buracos no chão, para os motoristas de motocicleta, auto e taxi, porque para estes ocorre um prejuízo material. Os motoristas de caminhão não têm tanta raiva porque são as empresas que arcam com o prejuízo", relata Presa (2010).

Segundo o autor, os resultados demonstraram que existem diferenças significativas nos níveis médios de emoção raivosa entre os cinco tipos de motoristas. Finalmente, os resultados sugeriram ser importante avaliar os níveis de emoção raivosa nos motoristas experientes e nos candidatos a motorista, quando esses realizam a Avaliação Psicológica, visto que a emoção raivosa pode ser uma importante causa de infrações e acidentes de trânsito.

Muitas vezes, estes comportamentos agressivos, que geram sofrimento tanto na sociedade quanto no indivíduo que os vivencia, podem estar associados com uma patologia. Para o psiquiatra Diogo Lara (2011) há uma correspondência entre o humor exaltado e instável com o comportamento impulsivo, quando definido como humor bipolar. “Um quadro bipolar, trata-se da um transtorno mental em que o humor assume autonomia, deixando de responder adequadamente ao que seria esperado, com variações diversas como euforia, agitação, aumento de energia, agressividade, ansiedade, explosividade, aumento de riscos e gastos, impulsividade e distração, entre outros sintomas do pólo positivo ou "para cima", que se alternam ou se mesclam com apatia, desânimo, tristeza, ansiedade e falta de prazer do pólo negativo ou depressivo.” As graduações do humor incluem desde a eutimia (estado normal do humor), a hipertimia (que não chega a atrapalhar o cotidiano), a hipomania (leve mania, que pode atrapalhar razoavelmente), até a mania (acarreta consequências e prejuízos em diversos níveis).

Segundo Lara (2011), o estilo de dirigir varia comforme o humor, que vai desde cauteloso e regrado; passando para um pouco mais rápido, costura um pouco, buzina, mas obedece aos sinais; até queima alguns sinais, não tolera ser ultrapassado, anda rápido, arranca sempre na frente, buzina bastante, trafega em alta velocidade, não respeita sinais, canta pneu, faz roleta-russa nos cruzamentos

O agressivo se vê vítima. Crê que há uma injustiça, mas na verdade há uma falha no olhar para seu próprio comportamento. A raiva está relacionada à percepção de dano e prejuízo. Há acrença de que regras importantes foram violadas pelas outras pessoas.

Estratégias de Manejo da Raiva segundo a Terapia Cognitivo Comportamental

Reestruturação Cognitiva:
Registro de Pensamentos ajudam você a desenvolver uma série de habilidades que podem melhorar seu humor e suas relações e acarretarem uma mudança de comportamento positiva;
Um Registro de Pensamentos lista evidências que apoiam e não apoiam os pensamentos que você identificou;
Os Registros de Pensamentos proporcionam uma oportunidade para o desenvolvimento de novos modos de pensar que podem levá-lo a sentir-se melhor;


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